Burnout é uma palavra inglesa como origem onde sua junção é burn (queima) e out (exterior), tem como característica sofrimento psíquico acumulativo, fruto de desgaste orgânico, principalmente em relação afetivas interpessoais no trabalho provocado pela exaustão de comportamentos.
O conceito Burnout ganha destaque em 1974 com o psicólogo Herbert J. Freudenberger, que utiliza pela primeira vez o conceito referindo-se ao alto custo emocional que as pessoas têm no desgaste afetivo e no desempenho do trabalho provocado pela fadiga de compaixão.
A Síndrome de Burnout desenvolve-se lenta e silenciosamente por um longo período. Alguns pesquisadores separam em fases a Síndrome. Mas vemos a tensão afetiva ou sofrimento psíquico nítido e perceptível em todos os casos. No Brasil, a Síndrome de Burnout integra a Lista de doenças profissionais e relacionadas ao trabalho (Ministério da Saúde, portaria 1339 / 1999) além de estar registrada nos anais de classificação internacional de doenças, CID-10, com o código e descrição: Z 73.0 - Sensação de estar 'acabado'.
Foram observados nos primeiros estudos que os profissionais que tinham contato ou relações interpessoais de forte intensidade de afeto. Os sentimentos que era a favor dos outros passaram a se transformar em repulsa. Ou seja, a síndrome se desenvolvia em pessoas que antes faziam da ajuda afetiva aos outros sua profissão e que esperavam o mínimo de retorno amoroso, como professor, assistente social, médico, enfermeiro, psicólogo, padres, religiosos, freiras e atendentes públicos. Há em comum entre essas pessoas a procura de satisfação no trabalho em busca de fazer os outros felizes, melhores, curados. Tais profissões demandam o relacionar-se com sensibilidade emocional, em um estado de compreensão em que procuram se colocar no lugar do outro.
Em uma amostra de pesquisa feita pra avaliar e comparar o nível de estresse, foi incluído padre e freiras, que se constatou que os padres e as freiras eram os mais estressados de todos que ali foram avaliados. Cerca de um quarto deles sentiam sobrecarregados do ponto de vista físico e psíquico.
Os ministros do sagrado, presbíteros e religiosos ou religiosas são pessoas que iniciam com muita coragem e idealismo a vida religiosa. Depois, sentem-se reduzidos quanto à realização do trabalho, além do sentimento de impotência e de inutilidade diante de um conjunto de expectativas inalcançáveis. Sentem-se esvaziados de energia, de ideias, exauridos emocionalmente e incapazes de renovar as motivações e forças espirituais que tinham no início do ministério.
Os sintomas quando perduram podem chegar a uma crise irreversível que determina até o abandono do ministério. Esses sintomas são conhecidos como Síndrome de Burnout na Igreja ou Síndrome do Bom Samaritano Desiludido por Compaixão.
Ela é potencializada pela sobrecarga de trabalho burocrático, repetitivo e sem criatividade. Repleto de frustrações geradas pelo contato com os paroquianos, além de insucessos pastorais, dificuldade de relacionamento com o colega pároco ou vigário. Redução de sentido de pertença do presbitério, pelo contraste de valores pessoais.
Moisés no Antigo Testamento demonstra a síndrome em Êxodo 18,16-23: "O sogro de Moisés disse-lhe: “Não está certo o que fazes! Tu te esgotarás seguramente, assim como todo esse povo que está contigo, porque o fardo é pesado demais para ti, e não poderás levá-lo sozinho. Escuta-me: vou dar-te um conselho, e que Deus esteja contigo! Tu serás o representante do povo junto de Deus, e levarás as questões diante de Deus: tu lhes ensinarás suas ordens e suas leis, e lhes mostrarás o caminho a seguir e como terão de comportar-se. Mas escolherás do meio do povo homens prudentes, tementes a Deus, íntegros, desinteressados, e os porás à frente do povo, como chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dezenas. Eles julgarão o povo todo o tempo. Levarão a ti as causas importantes, mas resolverão por si mesmos as causas de menor importância. Assim aliviarão a tua carga, levando-a consigo. Se fizeres isso, e Deus o ordenar, poderás dar conta do trabalho, e toda esta gente voltará em paz para suas habitações”.
Nesse tempo, Moisés apresentava um quadro de profunda desilusão e desmotivação da liderança do povo. Seu sogro observou e aconselhou Moisés que seguiu e obteve novas formas de relacionamento com o povo e produziu frutos.
Essa Síndrome é hoje de uma realidade confirmada e diante desse quadro é imprescindível a ação e o cuidado com a vida desses que nos levam a Jesus. Convém notar o olhar clínico, pois dentro desse olhar podemos escutar os sintomas e criar procedimentos terapêuticos. Visando novos arranjos e maneiras de fazer as coisas nas instituições. A clínica psicossocial crê nas modificações das condições de trabalho, resgata o valor da positividade ou do encantamento do grupo enquanto lugar de agenciamento de invenção e criação.
É um assunto muito extenso e não consigo colocar tudo aqui, mas gostaria de finalizar pedindo que olhemos mais para nossos sacerdotes. Orações são muito importantes e devem ser feitas a todo tempo por eles e para eles; é a nossa missão, sustentá-los. Mas precisamos hoje fazer mais.. olhar com carinho para os nossos sacerdotes, ajudá-los no que for possível e dentro dos nossos limites e parar de criticá-los tanto e denegri-los. Precisamos estar junto, pois um padre caído também é uma comunidade caída. Um padre desanimado também é uma comunidade desanimada. Se fizermos a nossa parte, não fica tão pesado a ninguém, em especial aos nossos padres. Somos reflexos de nossos pastores. Então, um padre de pé tem uma comunidade de pé.
Vamos juntos!!
Igreja Una e Santa!!!
Tathiana Lopes
CEO Clerum Photos
* Indicação do livro Sofrimento Psíquico dos presbíteros da editora vozes*